O ato de pesquisar, tradicionalmente, esteve cercado de ritos, dentre eles uma coleta de dados que contribuiria para a construção de um texto formal e uma postura quantificadora. Hoje, ao atentar para os princípios científico, formativo e educativo da pesquisa, é possível dizer que existem diferentes espaços de pesquisa e que o ato de pesquisar está voltado também a todos os níveis de escolaridade.
O avanço das idéias sobre o ato de pesquisar, gerado pelos debates na própria academia sobre quem pode e deve desenvolver o ato de pesquisar, vem fazendo com que autores, dentre eles Pedro Demo (1995, p.51) expliquem a pesquisa como sendo uma atitude cotidiana do aprender a aprender, saber pensar para melhor agir o que garante a diferença substancial entre treinar e educar, copiar e construir, imitar e participar. Este ato de pesquisar passa a ser o processo de superação da reprodução, da cópia do professor e do aluno, possibilitando a estes serem partícipes de sua própria formação permanente.
O ato de pesquisar, seja na academia, no espaço da escola básica, no espaço de formação inicial ou continuada, está intimamente vinculado ao questionamento que se faz da realidade e discussão dos problemas sociais. Lüdke e André (1986, p.1) explicitam que para se realizar o ato de pesquisar é preciso promover o confronto entre os dados, as evidências, as informações coletadas sobre determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a respeito dele. Este confronto não cai do céu e nem nasce do nada, ele emerge de um problema que intriga o pesquisador e/ou grupo de pesquisadores. O problema é fruto de inquietações, curiosidades, questionamentos em relação à realidade como ela se apresenta. Mesmo fazendo parte do interesse de quem está envolvido com o tema da pesquisa, é preciso delimitá-lo, pois apenas um recorte daquele saber será objeto de investigação.
O ato de pesquisar tem o objetivo de querer saber, de desejar conhecer o funcionamento das coisas para, a partir deste conhecimento, fazer uso dos conhecimentos produzidos.
No ato de pesquisar reside a possibilidade do desenvolvimento do processo de construção do conhecimento emancipatório de que fala Boaventura de Souza Santos (1991). A este processo integra-se o desenvolvimento do habitus científico, necessário ao ato de pesquisar, que, para Bourdieu (2001, p.17-58), se dá pela instauração de atitudes que considerem a pesquisa como atividade racional e científica sujeita a riscos, hesitações e renúncias. Atitudes de problematização, questionamento e transformação de objetos insignificantes em científicos são capazes de promover a interação teoria/prática e de provocar rupturas com o senso comum.
É importante ressaltar que o ato de pesquisar é uma atividade básica da ciência. É por meio desta atividade científica que se descobre a realidade. Para descobri-la é preciso questionar, estabelecer "perguntas inteligentes". No entanto, as respostas encontradas não representam resultados definitivos. Como diria Mika, "Uma resposta nunca merece uma reverência. Mesmo que seja inteligente e correta, nem mesmo assim você deve se curvar a ela". Quando você se inclina, continuou Mika, "você dá passagem, e a gente nunca deve dar passagem para uma resposta. Ela é parte do caminho que está atrás de você, só uma pergunta pode apontar o caminho para frente". Portanto, é no diálogo do pesquisador com a realidade, pelo ato de pesquisar, que ele busca compreender e enfrentar de modo crítico e criativo as situações desafiadoras da cotidianidade e dos problemas sociais.